sexta-feira, 30 de julho de 2010

Quando conheci Jéssica a odiei instintivamente. Eu queria matá-la, apenas
cumprir minha obrigação para com os mortais, ser a morte para ela. Com o tempo
passei a odiá-la ainda mais, pois ela representava meu erro, minha incompetência,
meu único trabalho inacabado. Odiei aquela criança, pois eu estava habituado a
odiar toda sua raça imunda.
Um anjo pode odiar, amar e errar! E geralmente essas três palavras estão juntas
na mesma sentença do destino de um anjo que escolhe se relacionar com um mortal,
já que a humanidade sempre decepciona aqueles que um dia possam depositar alguma
fé sobre ela. Todos nós, imortais, sabemos disso.
Por fim... Acabei preso a Jéssica por uma dívida, condenado por meus erros do
passado e vítima de uma artimanha do destino.
Irritava-me profundamente o modo com ela queria me cativar, a petulância dela
em me desafiar só aumentava meu ódio, mas ainda preso pela dívida eu não podia
matá-la.
Certa vez, um de nós me disse que todos os anjos caem por amor, e após escolher
amar a desgraça recai sobre ele e a todos aqueles que ele dirigiu seu amor. As
lágrimas de sangue escorreram dos meus olhos pela minha face desesperada, meu
coração transbordava de desespero. Eu já sabia meu destino, Baliel já o havia
escrito. Gabriel já havia profetizado que eu também cairia! Do ódio ao amor, do
amor ao ódio.
Eu só não sabia que um dia eu iria abrir mão de tudo por ela, eu iria deixar
meu ódio para trás. Iria abandonar meus poderes, minha imortalidade... E acima
de tudo iria sacrificar minha vida mortal pela dela. Isso é o que acontece
quando a morte decide amar, quando o anjo que deveria trazer a peste, a dor, o dilúvio
e a morte resolve abrir mão de tudo. Eu abandonei toda a humanidade para
escolher apenas uma humana, abandonei todo meu ódio para escolher o amor, e
isso... E essa decisão trouxe minha destruição.

O Último Visitante - David T. Gomes

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